segunda-feira, 22 de março de 2010

As mulheres no poder



Tem um ditado popular que diz que quem procura acha... De fato! mas, as vezes acontece até da gente encontrar o que nem estava procurando. É o caso deste texto. Uma excelente reflexão da trajetória de poder da mulher. Trata-se de um material antigo, visto que foi publicado em 2006. No entanto, abstraindo algumas informações pontuais para a época, em sua maior parte, o artigo continua atual e merece ser resgatado. Por essa razão, com licença e total respeito à autoria do jornalista Beto Leão, aqui será postado integralmente.

Boa leitura!


As mulheres no poder

por Beto Leão**

No século XIX, vários antropólogos, e até um eminente teórico do socialismo moderno, acolhendo as idéias de Darwin, defenderam a existência num tempo remoto da humanidade do sistema do matriarcado, uma organização social inteiramente predominada por mulheres. A hipótese matriarcal surgiu em 1861, quando o suíço Johann Bachofen sugeriu a existência de sociedades matriarcais na pré-história. Suas idéias influenciaram fortemente antropólogos e arqueólogos do final do século 19 e começo do século 20.

Seguindo na linha dos antropólogos evolucionistas, o americano Lewis Morgan ( A Sociedade Antiga, 1877), defendeu, ao estudar as tribos dos iroqueses, o ponto de vista de que as relações de parentesco eram dadas pelas mulheres, pelas mães (que até hoje encontra-se no antigo hábito ibérico de que o sobrenome da mãe é colocado no final, e não no meio do nome do filho). Conseqüentemente, confirmava-se para ele, a teoria do Direito Materno de Banhofen, como sendo o direito-matriz das sociedades.

Friedrich Engels, bem como Karl Marx, entusiasmou-se pelo trabalho de L. Morgan, extraindo dele conseqüências bem mais amplas do que as origens do parentesco e as alterações ocorridas na familiar. Engels (Origem da família, da propriedade privada e do estado, 1884) aceitou também existir num passado longínquo uma sociedade matriarcal, não da mítica tribo das guerreiras amazonas, que tantas lendas gerou, na qual as mulheres dispunham de uma liberdade sexual desconhecida para os modernos.

Para o companheiro de Marx, entretanto, o surgimento do patriarcalismo e as subseqüentes modificações na estrutura familiar nada deviam à crescente proeminência dos deuses masculinos como pensara Banhofen, mas sim à introdução do princípio da propriedade privada. Com o surgimento do costume do cercamento e da delimitação das terras, adotadas pelos homens vitoriosos em combates e guerras, os machos passaram, disse Engels, a exigir fidelidade sexual das mulheres porque não aceitavam ter de legar os seus bens, obtidos com sangue e pela exploração do próximo, a um descendente que não fosse seu filho legítimo, gente do seu próprio sangue.

Foi então que o adultério feminino passou a ser considerado grave infração, senão crime capital. As exigências do patrimônio enfeixado nas mãos dos homens teriam então suprimido as liberdades femininas, tornando as mulheres cativas, presas a um casamento monogâmico. De certa forma era inevitável que um militante socialista como Engels concluísse que a opressão feminina derivava em última instância da existência e manutenção da propriedade privada, induzindo a que se concluísse que a verdadeira emancipação feminina só poderia advir da abolição da sociedade burguesa. Pesquisas antropológicas feitas com mais rigor no século XX concluíram que jamais houve uma sociedade matriarcal. Isso não significa negar que em várias tribos ou civilizações as mulheres fossem altamente consideradas (como por exemplo na Grécia arcaica).

ELAS ESTÃO TOMANDO O PODER


Coincidência ou não, o século XXI, aos poucos, surpreende eleitores mundo afora, deixando uma pergunta no ar: as mulheres estão tomando o poder? Discretamente - e com muita competência - uma nova geração de mulheres está chegando ao poder em sociedades nas quais isso era impensável até pouco tempo atrás. E outras estão a caminho.

Na Alemanha, Angela Merkel é a primeira a chefiar o governo do país. Ela é doutora em física e foi ministra do Meio Ambiente. No Chile, Michelle Bachelet é a primeira mulher a presidir um país latino-americano sem ter herdado o poder do marido. Pediatra, ela foi antes ministra da Saúde e ministra da Defesa.
Na Libéria, Helen Sirleaf é a primeira mulher eleita presidente na África. Formada em administração na universidade Harvard, foi diretora do Banco Mundial e é chamada de "dama de ferro".

Na França, Ségolène Royal desponta como forte candidata a presidente em 2007, pelo Partido Socialista. Formada em administração, foi ministra do Meio Ambiente.

Nos Estados Unidos, a eleição de 2008 poderá ter duas mulheres disputando a sucessão do presidente George W. Bush. Tudo indica que a ex-primeira dama Hillary Clinton será a candidata do Partido Democrata. Ela se destacou como senadora e ganhou vida política própria, sem depender do marido. Do outro lado, a mulher que chefia a diplomacia americana, Condoleezza Rice, tem tudo para ser a candidata do Partido Republicano. Se for eleita, será não somente a primeira mulher como a primeira pessoa negra a presidir a maior potência mundial.

No Brasil Ellen Gracie pode ser a primeira mulher a assumir presidência do país. A recém-empossada presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Ellen Gracie, tem grandes chances de ser a primeira mulher a assumir, ainda que interinamente, a Presidência da República. A possibilidade é grande devido à proximidade das eleições, que tornam incompatíveis os postulantes ao cargo que estão mais próximos na linha sucessória.

Para que a ministra assuma interinamente a presidência, bastará que o presidente Luís Inácio Lula da Silva viaje para o exterior. E isto está previsto para maio. À frente de Gracie, estariam o vice-presidente José Alencar, que deve ser candidato a cargo ainda não definido pelo Estado de Minas, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-AL), e o do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). As três possíveis candidaturas os tornam incompatíveis para assumir a presidência.

Ellen Gracie Northfleet, eleita no dia 15/3/06 para a presidência do STF (Supremo Tribunal Federal), é carioca e tem 58 anos, completados no dia 16 de fevereiro. Filha de José Barros e Helena Northfleet, Ellen nasceu na capital fluminense e passou grande parte de sua vida acadêmica no Rio Grande do Sul.

No dia 14 de dezembro de 2000, tornou-se a primeira mulher, e até agora única, a assumir cargo de ministra na suprema corte, ao ser nomeada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, na vaga de Octavio Gallotti.

Ellen foi nomeada vice-presidente do Supremo em maio de 2004. Antes disso, entre seus principais cargos, a de presidência do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) em 1997, quando dedicou sua gestão às metas de ampliação e interiorização da Justiça Federal de Primeira Instância e à racionalização dos serviços e praxes judiciários. Também já ocupou a vice-presidência do TSE, entre 2003 e 2004. Trabalhou no Ministério Público de 1973 a 1989.

Ellen Gracie iniciou seus estudos acadêmicos na Faculdade de Direito da então Universidade do Estado da Guanabara. Em 1970, concluiu o curso de Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Graduou-se, em nível de especialização, em Antropologia Social, também pela UFRGS no ano de 1982.



Do jeito que o mundo anda, é evidente que ser governado por homens não está dando muito certo. Com as mulheres no poder, é possível que as coisas melhorem. Mas elas vão ter que rebolar para consertar o que os homens fizeram.

** jornalista, pesquisador de cinema e amante da Sétima Arte. Autor dos livros: Goiás no Século do Cinema, Bennio - Da Cozinha para a Sala Escura, Cinema Ambiental no Brasil e Cinema de A a Z. Dirigi o video-documentário "Césius 13.7", sobre o acidente com o Césio 137 em Goiânia. Participei de vários curtas e documentários em Goiânia.


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