sábado, 13 de fevereiro de 2010

Valentia etílica na Morada Real

Sônia é uma mulher igual a muitas outras que a gente conhece. Simples, de pouca formação intelectual, e que trabalha muito para dar conta de suas obrigações como mãe dedicada e só; na condução da educação e da boa formação dos filhos. 

Depois de um casamento atormentado, marcado pela violência doméstica, ainda sob intensos sofrimentos e ameaças, tomou coragem de se separar. Decidiu-se a seguir adiante contanto apenas com a companhia dos filhos. Procurou pelos seus direitos e separou-se na forma da lei. Daria certo, se não fosse um significativo e antiquado detalhe...

O marido de Sônia revoltou-se com a 'ousadia'! Ainda que a justiça tenha encaminhado a separação por definitiva, ele não se separaria. Ela pagaria o desaforo. Que lei de amparo a mulher que nada!... Parece relato de outros tempos? Mas, aconteceu ainda ontem.

Ao chegar do trabalho, na noite de sexta-feira (12/01), Sônia moradora do Bairro Morada Real, deparou-se com a casa revirada, seus pertences espalhados, alguns eletrodomésticos quebrados, os filhos amedrontados, o ex-marido e pai de seus filhos, bêbado, invadiu a casa e a recebeu com agressões verbais e muita violência física. O caso deu polícia. 

Por estar de todo errado, ilegalmente armado, seria prisão na certa! Flagrante delito. Seria...

Se não fosse mais um significativo e antigo detalhe...

Ainda que descumprindo ordem judicial ao se aproximar da ex-esposa, arrombar a residência onde ela morava com os filhos, agredir e ameaçar matar a todos, causar imensos prejuízos físicos, emocionais e financeiros à própria família; mesmo tendo dado queixa pessoalmente aos policiais de plantão naquela noite de sexta, Sônia não encontrou nenhum amparo ou atendimento digno na delegacia que procurou. 

Com a Delegacia da Mulher fechada por causa do feriado pré-carnaval, com a omissão dos policiais homens que sequer registraram formalmente sua queixa, restou àquela mulher mais uma vez amargar os prejuízos, as dores, os medos e buscar se abrigar com os filhos em casa de uma amiga. 

Enquanto isso, o agressor, que mantinha a posse do refugo de destroços, continuou dentro da casa e vociferando sua valentia etílica e covarde.

Já não é mais detalhe, porém, é bem significativo. Esta lamentável história compõe uma estatística de permanência irrestrita das injustiças decorrentes do não-cumprimentos das leis, e da selvageria masculina que continuam amparadas pelas práticas de omissos e maus policiais que possibilitam aos agressores se acreditarem com poderes absolutos sobre mulheres e filhos.

Homens assim comprometidos com o atraso e a violência, vivem como se ainda fosse antigamente!

por Maris Stella


Um comentário:

  1. Infelizmente, esse é um caso, dentre muitos e muitos, que são omitidos, mais principalmente pela falta de atitude de muitas mulheres.
    O medo, muito comum, mais é fundamental termos mulheres como Sônia, que lutam e fazem se ouvir, mesmo que com nosso sistema fraco e dominado por tantos homens.
    Mais, a luta tem que partir de cada uma, que se sentindo ameaçada, reivindique os seus direitos.
    Abraços!

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