terça-feira, 27 de abril de 2010

O PT VENCEU. VIVA CIRO GOMES!



Gildelson Felício de Jesus*
Diante da discussão acerca da candidatura do PSB à presidência da República, representada pelo Deputado CIRO GOMES, e consequente polêmica na imprensa nacional, entendo ser meu dever de militante socialista, com 21 anos de participação em diversas instâncias partidárias, preocupado com o crescimento e construção de uma identidade nacional partidária sem equívocos, fazer algumas inferências com base na história recente do PSB.
Entre 1985 e 1989, em sua refundação, o PSB era um partido pequeno, dirigido e influenciado principalmente por intelectuais e políticos do Rio de Janeiro, a exemplo dos saudosos Antônio Houaiss e Jamil Haddad.
Nos anos 90, o PSB passou a crescer no nordeste, com a filiação do governador Miguel Arraes, eleito o Deputado Federal mais votado do País, uma das mais importantes personalidades da política brasileira. Lembro-me de que, no IV Congresso Nacional do PSB, em 1992, eu estava presidindo o Congresso da JSB-Juventude Socialista Brasileira, na condição de seu Coordenador Geral e, naquele momento, havia uma disputa entre dois grupos: de um lado, os liderados por Arraes e, do outro, os históricos do partido, aliados de Roberto Amaral e Jamil Haddad. Naquela época, demos oportunidade aos dois , Arraes e Amaral, de defenderem as suas teses e convencerem os jovens delegados do PSB a se posicionarem por uma ou outra posição.
Em 2002, o PSB se apresentou nas eleições presidenciais com a complexa candidatura de Garotinho, que serviu para ampliar a bancada de deputados federais e superar a cláusula de barreiras, mas não consolidou um nome para o futuro, dado à visão messiânica e personalista do candidato.
No momento atual, a questão em pauta são as eleições de 2010. Considerando a Reunião da Executiva Nacional, marcada para o próximo dia 27 para decidir o destino da candidatura própria do partido e, em se ratificando o que toda a imprensa tem noticiado antecipadamente, estaremos confirmando que a direção nacional do PSB tem transformado a nossa agremiação em um simulacro de partido, acompanhando cegamente uma decisão do presidente Lula em reduzir as eleições presidenciais a um plebiscito (a favor ou contra). Essa decisão forçada e operada pelo PT nos remete a tempos sombrios da Ditadura Militar, quando foi instituído o bipartidarismo(ARENAxMDB).
A eleição em dois turnos, principalmente as presidenciais, é de grande valia, no 1º turno, para que os partidos apresentem as suas teses e projetos na busca de consolidar e atrair uma parcela da sociedade para suas trincheiras e, no 2º turno, para compormos e fazermos avançar a democracia e os interesses nacionais.
No caso em tela, a candidatura de Ciro Gomes se justifica porque, além do deputado ter preparo para defender as idéias que os socialistas almejam, alavancaria a eleição dos deputados federais diferente do que tem sido posto através da "chantagem" do PT, do não apoio a eventuais candidatos a governador e a senador nos diversos estados onde o PSB tem nomes fortes. Ao contrário de atrapalhar, a candidatura Ciro fortaleceria as nossas lideranças regionais, observando que:


  1. O PT somente apoiará o PSB para os Governos Estaduais, onde nossas lideranças são comprovadamente mais fortes e onde o PT não tem viabilidade eleitoral;


  2. As vagas de Senador somente terão apoio do PT quando nossos nomes agregarem valor à chapa majoritária nos estados, pois o PT não tem vocação para fazer caridade aos aliados e, dessa forma, nossas vagas serão conquistadas pela representatividade política das nossas lideranças regionais;


  3. A eleição proporcional (Deputado Federal e Estadual), em todo e qualquer estado, não foge a regra : "cada um por si e Deus por todos". Entretanto, em se tratando de um candidato a presidente que tem o potencial de atingir 15% do eleitorado, não se pode desprezar o voto de legenda e a marca partidária;


  4. Visível por todas as pesquisas, Ciro seria o "fiel da balança" num eventual 2º turno. Por isso mesmo, o PT trataria nossas lideranças regionais com mais respeito e cuidado, para obter o apoio necessário no segundo momento;


  5. A retira da candidatura de Ciro, inevitavelmente, levaria parte da militância socialista a votar na candidata do PV – Marina Silva em protesto à arrogância petista e à falta de debate aprofundado.
Ademais, sabemos do "risco Serra", afinal todas as pesquisas têm apontado uma possível vitória do PSDB/DEM. Essa possibilidade de retrocesso para o Brasil passa a ser uma responsabilidade não só do presidente Lula (idealizador da tese) e da Direção do PT, mas também compartilhada pela Direção Nacional do PSB, caso, equivocadamente, ceda às pressões do PT e inviabilize a candidatura de Ciro à presidência.
Fazendo uma leitura modesta e extremamente pragmática do cenário político atual, inferimos que uma eventual derrota de Ciro no 1º turno poderá implicar a vitória de Dilma Russef (PT) no 2º turno. Mas impedir que Ciro entre no "jogo", poderá acarretar um prejuízo maior já no 1º turno com a eleição de Serra.
Será que todas as pesquisas e opiniões da quase totalidade dos analistas/cientistas políticos estão equivocadas e apenas a direção do PT tem razão?
Mesmo sendo o PT um partido de origem sindical, formado por grandes intelectuais e apoiado pela base da Igreja Católica, com várias tendências de esquerda, a chegada ao poder central do país acrescida ao extraordinário desempenho do presidente Lula, fez com que o PT recuasse nas reformas e transformações que o Estado Brasileiro necessita, não obstante os avanços sociais até aqui implementados. A auto-suficiência e erros das principais lideranças do PT ( José Dirceu, Genuíno, Palocci, Delúbio, etc) quase colocam na "lata do lixo" o projeto em curso. O episódio do mensalão e outros feriram mortalmente a ética e a decência na política, forçando o PT a buscar uma política de alianças nas quais prevaleceu a valorização de partidos e lideranças de centro e conservadores. Em contrapartida, o PSB recebeu o Ministério de menor visibilidade e fraca representação política. Afinal, qual o papel do PSB no governo Lula? Qual o papel do PSB no futuro da política brasileira ?
É verdade que Ciro não impulsionou sua pré-candidatura na base partidária, circulou pouco nos estados e nas grandes cidades brasileiras esperando o comando partidário, mas, por sua vez, a Direção Nacional do PSB não construiu a candidatura de Ciro e foi omissa aguardando uma autorização do presidente Lula. Certamente, nesse momento, a direção vai preterir a nossa militância partidária de tomar essa decisão, contrariando o que determina o nosso Estatuto e Regimento Interno que indica a consulta aos militantes em um Congresso Nacional para a escolha de candidato à Presidência da República e definição de coligações.
Assim, perguntamos: Qual o Diretório Estadual se reuniu para consultar a sua base na perspectiva de emitir uma opinião sobre a questão Ciro ?
Se as cartas já estão marcadas, conforme noticia a grande mídia, fica aqui nossa reflexão registrada, para que amanhã dirigentes do PSB e do PT digam que não foram avisados do "risco Serra". Se o PT venceu o PSB sem disputar, viva Ciro Gomes por nos permitir pelo menos o debate preliminar.
Ao companheiro Eduardo Campos, pelo destacado desempenho a frente do Governo de Pernambuco, temos certeza da sua reeleição com ou sem o apoio do PT, mas, quanto a sua articulação e comando do PSB Nacional, estamos perplexos em relação ao futuro partidário. Esperamos, sinceramente, que os ensinamentos do velho e guerreiro Arraes inspirem e sensibilizem o nosso presidente e demais membros da Executiva Nacional a conduzir o partido numa posição de unidade e levantar a auto estima dos nossos filiados como co-autores do processo democrático.
  • Pela imediata convocação de um Congresso Nacional do PSB.


  • Viva o PSB! Viva a Democracia Participativa!
    
Vitória da Conquista -Bahia, 26 de abril de 2010.


*Gildeson Felício de Jesus é Presidente do PSB de Vitória da Conquista-BA, Professor de Lógica e História da Matemática da UNEB-Universidade do Estado da Bahia, atual Secretário Municipal de Cultura de Vitória da Conquista. Foi Coordenador Geral do Fórum de Dirigentes Municipais de Cultura do Estado da Bahia, foi o primeiro Coordenador Nacional da JSB, eleito em Congresso de 1989 e reeleito até 1992, ano em que foi Diretor de Cultura da UNE e Membro do Diretório Nacional do PSB.

 

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